MANUAL DE CONVIVÊNCIA COM O CORONAVÍRUS
Por: Prof. André Gusmão | 17/05/2020
Cirurgião
1. Acho que o primeiro ponto a se esclarecer é que os números vão subir sempre.
Isso ocorre por dois
motivos:
- é uma epidemia, então há
contágio constantemente.
- a forma gráfica de
apresentação é acumulativa, e não há como acumular pra menos.
Essa parte eu acho
importante, pois assusta muito os leigos.
2. A doença em si tem uma letalidade baixa.
Acontece que a taxa de
letalidade depende da quantidade de pessoas testadas, já que o vírus é muito
contagioso e se espalha rapidamente.
Como a muitas são
assintomáticas e não entram nos critérios para exames, não temos como precisar
o número real.
Locais que testaram muito,
como a Alemanha, notam letalidade de 0,5%. Mas deve ser entre 1 e 2% na maioria
dos lugares.
A letalidade também é
dependente do sistema de saúde local, que se for acanhado não oferece a
assistência adequada.
3. Achatar a curva foi importante.
Deu tempo para organizar o
sistema de saúde.
Acontece que nenhuma
economia sobrevive tanto tempo parada, e isso também resulta em mortes.
Além do terror psicológico,
que impedem pessoas com doenças graves, como infarto, a procurar atendimento.
Muitos morrem em casa.
Ao invés de intensificar o
lockdown, acredito que devemos acreditar na conscientização que a população já
adquiriu para evitar o colapso econômico e a desassistência a outras doenças.
Fora distúrbios
psicológicos como depressão e ansiedade.
Brigas familiares também
têm sido descritas. Sem contar a total falta de condições estruturais para
muitas famílias brasileiras cumprirem o #fiqueemcasa
4. A infecção tem um tempo de latência, geralmente 4 dias, até o início dos sintomas.
Naqueles que desenvolve
sintomas. Pois muitos são assintomáticos e nem percebem que foram infectados.
O que diferencia aqueles
com sintomas graves dos assintomáticos e sintomáticos leves é o tipo de
resposta imunológica.
Pacientes com resposta imunológica
limitada (ou modulada) passam sem maiores problemas pela doença.
Crianças, que têm um
sistema imunológico ainda imaturo, parecem ter menos casos graves.
Uma minoria não modula sua
resposta imunológica e apresenta sintomas mais graves como falta de ar.
É nesse momento que as
comorbidades podem influenciar. Elas não influenciam na resposta imune, mas no
prognóstico do paciente que ficou grave.
Aqueles com doenças prévias
têm mais dificuldades de atravessar a forma grave da doença.
Assim, um tratamento que
evite a evolução para formas graves seria bem vindo, pois reduziria a chance de
hospitalização e necessidade de UTI.
Pelo lado da rede de saúde,
essa demanda menor evitaria um colapso. Mesmo sem construir leitos.
Mas provar isso
cientificamente tem 2 problemas básicos:
- a doença já tem uma
letalidade baixa. Seria necessário milhões de pessoas tratadas com qualquer
medicamento para realmente haver uma diferença estatisticamente significativa.
Baixar de 1 a 2% é mais difícil que baixar de 10 a 20%.
- a burocracia e exigência
protocolar para a realização de estudos impede que muitos os realizem pois
estão ocupados tentando salvar vidas. São rigores necessários, mas que perdem
sentido no meio de uma crise.
Por isso a resposta a essa
questão não será científica. A Ciência não terá essa capacidade no momento, e
nem a velocidade necessária.
Em tempos de catástrofe, a
Gestão de Crise é o método mais adequado.
Medidas extremas são
tomadas logo de início (como o lockdown), por falta de informação. Seus
resultados e novas informações vão guiando as novas decisões... e assim por
diante.
Particularmente, se
estivesse à frente de uma rede colapsada, com muitos mortos e sem possibilidade
de expansão, iniciaria um protocolo com a melhor opção terapêutica disponível
(barata e com efeitos antivirais).
Foi o que fizeram os
convênios médicos com rede própria.
Com isso evitaram o colapso
de suas redes sem criar mais leitos.
Mas o método não é
científico. É gerencial. Então nunca será publicado em revista científica.
Somente ao final da
pandemia.
5. A pandemia deve durar bastante tempo ainda.
Primeiro porque é necessária
uma boa parte da população imunizada.
Sem vacina, isso significa
entre 60 a 70% da população, segundo cálculos baseados na taxa de transmissão
do vírus.
Somente na Bahia isso dá
umas 8 milhões de pessoas (mais um motivo para os números subirem sempre).
Países que são ilhas,
controlaram rapidamente a pandemia. É o caso da Nova Zelândia.
Mas, enquanto não houver
uma vacina, sua população é vulnerável. Vão continuar abertos pra dentro e
fechados pra fora.
Como achatamos a curva (e
achatamos mesmo), isso também significa que o tempo até o pico é mais demorado.
Ou seja. Vai demorar.
Mais um motivo para se
pensar em uma abertura programada com novas regras sociais.
Isso evitaria convulsões
sociais, quebra da economia, fome, violência e problemas psicológicos.
Novos padrões de
biossegurança já foram estabelecidos e serão um dos legados dessa pandemia.
Por que não novos padrões
sociais?
Essa questão também não
será científica, pois cada lugar tem um contexto diferente.
Como dito, a Nova Zelândia
venceu. Mas ainda é vulnerável.
A Itália perdeu muitos.
Muitos mais do que deveriam, mas estão imunes.
Não há reposta padrão para
todos os lugares. Mas a resposta de todos os lugares vem pela Gestão de Crise.
6. O que diferencia os homens dos outros animais é a capacidade de colaboração.
Não sou eu quem digo. É
Yuval Harari.
Essa pandemia nos tornou menos
humanos, pelo menos aqui no Brasil.
Não estamos nos
colaborando.
O barco está afundando
enquanto dois grupos travam batalhas entre si.
A união do povo deve se
manter, mesmo na crise. Mesmo no distanciamento.
Voltar a colaborar para
voltar nossa humanidade.
TEMOS QUE SABER CONVIVER COM O VÍRUS!
Prof. André Gusmão
Cirurgião